segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

(22.dez) A longa volta para casa

Demorei pouco na ilha mas, em termos geográficos, visitei todos os pontos importantes, além de ter cruzado toda a ilha a pé. Faltou mesmo foi conversar mais com os lhéus e participar de alguns eventos, mas voltarei aqui algum dia. A volta da ilha para o continente tem algumas características iguais às da vinda: não queira saber a hora certa de nada – é sentar e esperar pacientemente que a maré e o piloto se decidam partir. A espera desta feita foi na mercearia do Mário Borges (também dono do Comandante Robert). Quando cheguei o barco ainda estava totalmenteo no sêco, mas algumas pessoas já estavam embarcando. Foi fácil matar esta charada – com o barco no sêco era mais cômodo embarcar sem se molhar. Em compensação, à medida que mais pessoas iam chegando era necessário paciência para tentar acomodar todo mundo na sombra. Aí era só esperar que a maré erguesse o barco bem devagarzinho.

Para algumas pessoas não era conveniente embarcar cedo, aí tinham que enfrentar a água.

Alguns casos são mais complicados como esta mãe com bebê de colo. Só a canoa pode ajudar.

A travessia no “Comandante Robert” é mais confortável que no “6 irmãs” do Jorge Pescador, que usei na vinda – o barco do Mário é maior e, como é usado somente para transporte, não tem redes quilométricas nem bóias no convés. 
Quando fui pegar o carro, que tinha deixado guardado na Pousada Cobra, e separei R$ 10,00 para dar de gorjeta, D. Nazaré replicou que a guarda do carro era R$ 20,00. Não adiantou argumentar que na ida ela tinha dito que eu daria quanto quisesse. Afinal, Apicum-Açu, com exceção da lan house, é totalmente não recomendável para alimentação e pouso. O esquema é chegar lá com tudo previamente acertado para demorar pouco e não ter de comer nem pernoitar. Quanto à guarda do carro é realmente um problema, mas pode-se tentar junto ao posto de combustível. Tratei de me afastar dalí o mais rápido possível.
Cheguei em Cururupú ainda dia claro e resolvi tirar umas fotos antes de ir para a Través’Cia, no nosso Jorge Dino. Este é o pátio diante da igreja principal. É, talvez, a foto mais divulgada de Cururupú.

A cidade tem uma distribuição urbana bem interessante, com as ruas perpendiculares e os quarteirões retangulares. Vejam, na foto de uma planta de 1937 a seguir, no canto inferior esquerdo, o detalhe do arruamento já naquela época (mapa de Jorge Dino) – a cidade já era bem grandinha e bem organizadinha. É raro cidades antigas ribeirinhas já se desenvolverem assim de forma organizada.

As ruas estão bem mal conservadas, dando ideia de abandono. Mas há algumas casas bem antigas que estão bem  conservadas.


Quando não havia rodovias por estas bandas, e todo o transporte era feito por barcos, as cidades costeiras viveram seu período áureo. Aqui, acolá, encontramos alguns barcos remanescentes daquela época, como este que flagramos no porto fluvial de Cururupú.

De quebra peguei um por do sol básico no cais do porto.

Depois fui ao encontro do Jorge. Sua Pousada Través’Cia, na Rua Herculana Vieira, 29 – Centro, próxima ao fórum, fones  (98) 3391-1169 e (98) 8179-6665, está numa casa colonial muito antiga, onde foram preservadas as paredes originais. Um pé direito de mais de 6m permitiu um outro pavimento. As paredes foram construídas em adobe e os alicerces estão à mostra em pedras lavradas. Na pousada, além de muitas histórias, temos o melhor café da manhã da cidade, ar condicionado, TV, frigobar, banheiro individual com box, ótimos colchões e estacionamento interno. Tudo muito limpo, arrumado e decorado com extremo bom gosto - totalmente aconchegante. É reconfortante encontrar em local tão distante de tudo uma pousada de tão boa qualidade.

Além disso tudo tem o Jorge com sua simpatia, dicas sobre pessoas e locais, vontade e disposição de ajudar a tornar sua viagem o mais interessante possível. Tem um lema interessante: “Não temos recepção porque a norma da casa é receber amigos e não clientes”. E é exatamente esta impressão que você tem – você está na casa de um amigo de longas e longas datas. Um detalhe, se chegar e encontrar o portão de ferro fechado, por trás dele, do seu lado direito, tem uma cigarra que vai dar diretamente na cama do Jorge. Ele diz que não se incomoda de atender a qualquer hora, que tal testar?


Ele, que inicialmente iria para São Luis comigo, tinha recebido alguns amigos e iriam sair logo demadrugadinha, às 6:00 horas, para chegar lá bem cêdo para ter mais tempo de curtir as filhas. Me senti aliviado pois estava meio enrolado para lhe dizer que antes eu iria para Cedral, Porto Rico e, talvez, Alcântara devendo chegar à Ilha (como eles chama São Luís) somente depois do Natal.
Vejam parte da sua coleção de boias de vidro e de ferros de engomar a carvão:

Tem algumas cartas náuticas nas paredes da pousada. Ele gosta especialmente da Carta 400 da Marinha Brasileira porque apresenta a ponta norte da ilha dos lençóis com uma forma que lembra a cabeça de um pterodáctilo, ou seja, um dino “qui nem ele”.

Jorge está planejando construir um multicasco em 2014. Está totalmente fascinado pelo projeto. Mantém permanentemente um croquis em cima de uma mesa e, no computador, uma especificação completa dos requisitos do barco. Por enquanto ele está terminando um pequeno trimarã, aliás, falta só o mastro.

(23.dez) Quando descobri que tinha perto de Cururupú um local chamado Pindobal tive que ir visita-lo. Na Paraíba Pindobal era uma colônia correcional de menores. Quando eu trelava muito a ameaça era ser mandado para Pindobal. Aqui no MA é uma pequena colônia de pescadores, bem simples e pitoresca. Lógico que fui procurar o que significava: lugar onde crescem pindobas,  planta da família das palmáceas. Na verdade é mais conhecida como babaçu. Quando encontro nomes de origem arcaica, indígena ou africana, que se repetem em locais diferentes, sempre me uma grande curiosidade de saber o significado.


Mais uma vez uma constante: casas sobre palafitas – ou seriam pilotis?

No caminho para Pindobal tem pontes que lembram cenas da transamazônica.

Já ouviu falar da radiola de reggae do Maranhão? Tá pensando naquela que seu avô tinha e que era bem comportadinha e só tocava valsas, talvez como esta?

Ledo e redondo engano. Esta aqui abaixo é das mirins, pobrinha, da periferia de Cururupú. Imagine isto ligado no máximo!

As de São Luís dão umas trocentas (ou mais) vezes maiores. São verdadeiros paredões. Em termos de potência de som é algo como um trio elétrico sem rodas.

Maranhense gosta de som alto e forte, daqueles que impedem qualquer tentativa de conversar. Mesmo na pacata Ilha dos Lençóis de longe eu ouvia o som alto vindo de um barzinho - stunt-stunt-stunt-stunt ... É flórida.

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