terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Cedral: a Bahiana das mãos de ouro e o Capitão que anda nú.

Lógico que o pouquinho tempo que tive para conversar com Jorge aproveitei para pegar dicas de locais interessantes para ir. Quando acordei, no dia 23.dez, ele já estava longe. Mas na noite anterior, conversamos sentados no meio fio em frente à pousada, ele me recomendou visitar Cedral e lá, especialmente, dois locais: um era o estaleiro do Manoel Português, na praia do Outeiro, outro era a Pousada da Vanja, na praia do Barreirão.

No meio náutico o Manoel Português é uma lenda viva, considerado o introdutor do multicasco no Brasil. O cara tem vários catamarãs e trimarãs de pesca, e está construindo um catamarã imenso de 12 metros. Me atendeu muito bem, muito embora estivesse indo dormir (era meio dia) por conta de uma cirurgia no olho. Jorge me contou que ele estava muito abatido desde que descobriram um grande nódulo no seio da sua esposa. Eu tinha ouvido um comentário sobre um construtor de barcos que vivia nú, e que qualquer ave, porco ou criação que entrasse no seu terreno ele abatia a flexadas e comia sem dar satisfações ao dono. Num é que este cara é o Manoel! Ele tem uma história de vida fantástica. Vejam só este relato extraído de < http://www.brasilpassoapasso.com.br/blog/?p=38>

“Após outras tentativas ele fugiu da ditadura de Salazar em 64 e, por ironia do destino, veio bater aqui no Brasil na ditadura de Castelo. Veio de catamarã com um amigo e aqui ficou. Manoel não usa documentos de qualquer espécie, é um anarquista convicto. Vive na vila do Outeiro, próxima a Cedral, numa casa afastada na praia com a mulher Vita, uma negra de 1.80 m e mais uma dezena de filhos seus e de criação, além de netos e chegados. Nu, sim, realmente Manoel vive nu. Em casa, na praia, trabalhando no barco ou batendo um papo com os amigos da cidade que vão visitá-lo. Não há o menor constrangimento, todos sabem que ele é assim, naturalmente, sem forçar a barra. Mas o diferencial do Manoel não esta só no fato dele andar nu. Foi ele que, observando as condições locais de navegação (bancos de areia), introduziu o catamarã na região, pois este pode navegar com uma autonomia muito maior que os barcos locais. Além de ser construtor, ele planeja e executa os projetos. Manoel é um excelente marinheiro, ou capitão, e o maior conhecedor da região. Levou para viajar conosco a Vita e o Maneta, seu filho de criação. A Vita começou como nossa cozinheira, mas no decorrer da viagem foi promovida a barman (woman) já que era ela quem fazia as caipirinhas.  O Maneta era o grumete, estava apenas começando a viajar com o Manoel, sendo iniciado nas artes da navegação. É verdade, o mar estava calmo, a não ser na travessia de uma ou outra baia. Às vezes batia certo medo quando o Manoel saía um pouco mar adentro e ficávamos sem ver terra. Mas logo ele nos confortava dizendo quando e onde ia aparecer algum acidente geográfico. Sinceramente, o GPS de pouco serviu nesta viagem, a não ser para ficarmos brincando, fazendo comparações entre sua tecnologia e a do Manoel. Às vezes as águas eram quase negras, tal a quantidade de sedimentos ali concentrados, em outras passávamos sobre bancos de areia onde era possível ver o fundo. Fizemos uma viagem em perfeita sintonia até a ilha dos Lençóis.”

Quanto a mim, apesar dele ter sido recentemente operado, e de ser uma celebridade, me recebeu com uma extrema humildade e generosidade. Porém devidamente vestido como vocês podem perceber

Vejam uma entrevista para a TV em http://www.youtube.com/watch?v=zmj82vvhUEE.


Este é um imenso Catamarã de 40 pés (12 m) em fase de construção. Lá, olhando bem de pertinho, você nota que tudo é feito no maior capricho. Vem gente de todo o Brasil fazer barcos com ele.

Em Outeiro não resistí quando passei em frente ao Restaurante da Tia Dulce: “Picante no Gosto, Suave no Preço”. Não, não comí lá, mas saquei uma foto prá mostrar prá ocês:

A outra dica do Jorge para Cedral foi me hospedar, na praia do Barreirão que fica no vilarejo de Pericaua, na Pousada Praia Bonita, da Vanja, uma bahiana super simpática. Pensei que o nome fosse de origem Russa (ou talvez germânica), mas a explicação é mais simples: sua mãe teve três filhas e sequenciou os nomes: Vânia, Vanja e Vanda!

A pousada fica no alto de uma falésia e tem uma vista maravilhosa.

É muito aconchegante, quartos amplos e bem limpinhos. Olha só a vista do meu quarto:

Tem piscinas separadas para adultos e crianças

 e, principalmente, uma cozinha maravilhosa, com pratos inéditos para nós, como o Camarão Cheio, que eu não sei o que ela coloca sobre eles, mas garanto que é uma delícia.

Tem também um camarão empanado, indescritível. Tem até um louro que adora Guajirú

Ah, tem uma infinidade de flores. Estas aí são junto à piscina e serviram para me  .... (quem lembra como é?)

A pousada dispõe de um barco de pesca também utilizado para passeios por rios e belíssimos igarapés.

Com direito a visitar uma aldeia Tupinambá

e a coletar Guajirú na praia de Saçoitá. Guajirú é uma frutinha que dá em arbustos na praia, tem o tamanho aproximado de uma bola de ping-pong, e gosto variável. Vejam como, nesta planta, as folhas e frutos estão cobertos da fina areia incessantemente trazida pelo vento. Muito brevemente esta planta estará soterrada e morta.

E, para culminar, a revoada dos Guarás que, diferentemente da Ilha dos Lençóis não nos deixaram a ver navios, proporcionando um inesquecível espetáculo.


Este é o casal devidamente inastalado no posto de comando junto à cana de leme do barco. Ele tinha acabado de chegar de três dias de pesca em alto mar mas, como um valente capitão, não se negou a nos transportar neste passeio.

Também estava hospedado na pousada uma simpática família de São João Batista/MA, que me deu dicas de locais interessantes. Retribuí apresentando a filmadora de esportes radicais GoPro para o jovem motoqueiro que se aventurava a pilotar com uma só mão enquanto filmava suas aventuras segurando um celular na outra.
Esta é a praia do Barreirão próxima à pousada, em Pericaua. É uma praia nova que ainda não possui nenhuma infraestrutura.

Estes, por exemplos, são os banheiros. Alô idosos de plantão – Marcílio tá aí? Isto lembra o que?  Se o Alzheimer já apagou da sua memória lá vai – o “Bar do Mijo” na Praia do Poço –o banheiro também era assim. Lá a cerveja era de graça mas a mijada era R$ 10,00. Juvenal Vieira dizia assim: se você vê a cabeça do cabra, então ele está mijando. Mas se o cabra entra e desaparece totalmente é porque ele está de cócoras, cagando.

A maré, sempre a maré – os bares tem que ser sobre palatitas.


Soube que a Marinha do Brasil iria tirar no dia seguinte todas as barracas por estarem em faixa de marinha.

4 comentários:

  1. Adorei os comentários. Amanhã viajo para Pericaua, vou ficar na pousada da Vanja que é minha prima. Com seus comentários e fotos fiquei conhecendo um pouco mais antes de chegar e já estou contando as horas de relaxar nesse paraíso!

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    1. Valeu Ivonise, que bom que consegui te incentivar. Com certeza você vai adorar. Tua prima é 10 e a pousada fica num verdadeiro paraíso. Não perca nada, principalmente a revoada dos guarás vermelhos. Pena que é longe de João Pessoa, senão iria direto por lá. Abs

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  2. Estou aqui com Vanja e mostrando a ela seu maravilhoso blog, ela adorou! Mandou dizer que traga logo o carro dela! Adorei tudo por aqui, o voo dos guarás é simplesmente indescritível, emocionante. Abraços. Continue divulgando suas viagens, muito bom e de grande valia para os viajantes.

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  3. Eu nasci em Cedral, em um povoado chamado S.Bento e conheci a Pousada, por fora, não cheguei a conhecer os quartos, porém quantos as paisagens são todas lindas e as prias e manguezais são demais,Tenho ido uma vez por ano e ficarei 2 dias nessa pousada cuja a dona conheci pessoalmente, acho que vale muito conhecer Cedral, as prias e os rios são ótimos.

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